Portugal no seu melhor

Esta manhã precisei de falar com o departamento imobiliário do Montepio Geral. Fui ao website, vi o telefone do atendimento geral e liguei a pedir o número. A senhora que me atendeu pede-me um momento. Eis a conversa em resumo:

-- Agradeço ter esperado. Se me der o seu número de telefone, ligamos-lhe mais tarde a dar o telefone que solicitou.

Fiquei estarrecido.

-- Minha senhora, não lhe pedi o número específico de ninguém, apenas o número geral do departamento imobiliário. Sou arrendatário e mutualista do Montepio, não creio que esteja a pedir nada demais.
-- Compreendo, mas não lhe posso dar o número de telefone neste momento. Se me facultar o seu telefone, entraremos em contacto consigo.

Lá dei o telefone e o nome.

Um par de horas depois, recebo um telefonema.

-- Recebemos informação do seu pedido. Se me der a sua identificação, o número do bilhete de identidade ou o número de contribuinte, poderei dar seguimento ao seu pedido.

Fiquei sem palavras.

-- Minha senhora, ter-me-ei enganado e liguei para o S.I.S.? Posso recordá-la de que estou a pedir simplesmente o número de telefone geral do departamento imobiliário?!
-- Compreendo, mas me der a sua identificação, o número do bilhete de identidade ou o número de contribuinte, poderei dar seguimento ao seu pedido.
-- Olhe lá, não estou a pedir o telefone privado do presidente do Montepio, apenas o número geral do departamento imobiliário.
-- Compreendo, mas me der a sua identificação, o número do bilhete de identidade ou o número de contribuinte, poderei dar seguimento ao seu pedido.

E assim ficou, a senhora repetindo vezes sem conta a mesma frase, seguindo bovinamente o guião que certamente tinha à sua frente. Depois de muito insistir e de tentar mostrar, sem sucesso, o absurdo da situação, de apelar ao bom-senso, acabei por desistir e não dar, por uma questão de princípio.

Consegui lá chegar mais tarde e de outra forma. Por aqui se pode ver, por este pequeno "nada", sendo que de muitos nadas se faz um grande todo, porque é que este país está no estado lastimável em que está.

 "A Casa dos Loucos" do Astérix. No mundo da burocracia,
a realidade cada vez mais imita a ficção.